Quem me conhece sabe que os Beatles fazem parte da minha história de vida, que eu os descobri muito cedo ainda na infância, que assisti ao show do Paul ainda pré-adolescente e que essa paixão cada dia cresce mais.
Quem me conhece também sabe que o Paul é meu Beatle favorito, por motivos que nem mesmo eu sei explicar, mas as poucas vezes que tentei, sempre achei que fosse porque além de ele ser incontestavelmente genial, sempre esteve mais em evidência: lançando vários discos, fazendo vários shows, sempre foi o Beatle mais acessível , pelo menos para a minha geração.
Mas na minha vida sempre em seguida, veio o George. Ah, considerando o quanto eu amo esses 4 carinhas de Liverpool, ter o George como meu 2ª favorito(musicalmente falando) não é pouca coisa,não! Mas o quesito que ele sempre ocupou o 1ª lugar foi: pessoa, ser humano favorito, e isso transcendia o Fab 4, o George é a minha pessoa favorita EVER, de todos os tempos, a ja ter habitado esse planeta. Então, o meu amor por ele sempre foi absurdo, imensurável.
No fim dos anos 80, eu ja beatlemaniaca, adorava garimpar tudo que meu pai tinha vinis, fitas todos originais da época. Eu ja estava PHD em Beatles, Paul, e John, mas ainda não tinha começado a desbravar o George. Eu me lembro o ano que isso começou a acontecer: 1988 que meu pai comprou uma fita-cassete do “Cloud 9” e a capa me chamou a atenção porque quando li “George Harrison” eu não poderia acreditar que aquele era o George dos Beatles. Até então, eu só tinha na cabeça a imagem dele novinho nos anos 60, então, fiquei chocada como a aparência dele tinha mudado, e curiosa que era, claro que quis ouvir a fita. Amor à primeira” vista”! A partir daí, George também me conquistou, e lá fui eu mexer nos empoeirados discos do meu pai. Os que ele não tinha, eu pegava empresado de amigos musicos também fã. Ser filha de produtor musical, sempre teve suas vantagens porque cresci rodeada de gente com um super acervo com tudo que dizia a respeito ao FAB 4.
Em 91, eu então, sócia do Fã clube Revolution recebi um fanzine que falava da turnê do George pelo Japão juntamente com meu amado Eric Clapton. Eu fiquei enlouquecida com isso, doida pra ir, mas claro, que era um sonho distante demais para os meus 11 anos.
Em 93, Paul veio ao Brasil e pude vê-lo ao vivo pela primeira vez. Enquanto esperava na fila a abertura dos portões, um acontecimento que nunca irei me esquecer: havia caixas de som da rádio Band FM e Transamérica instaladas na Praça Charles Muller, tocando várias musicas para entreter o povo na fila, quando de repente começa a tocar ” Got my mind set on you” do Cloud 9, musica que eu amava por ser tão divertida, alegre. Nessa hora, todos vibraram e eu me arrepiei até o ultimo fio de cabelo e falei pra mim mesmo ” o próximo show, tem que ser o seu, George”.
Em 95, teve o Anthology e eu pude com isso ganhar novos companheiros de Beatlemania. A principio confesso que tinha ciumes e implicava com a geração Anthology”: esses fãs modinhas”, eu esbravejava, rs! Mas depois, adorei ver um monte de gente da minha idade também adorando os Beatles, eu era sempre tão sozinha nisso, ou sempre acompanhado por pessoas com pelo menos 30 anos a mais.
Uma das cenas mais emocionantes do Anthology para mim, era ver os 3 Beatles reunidos na casa do George, tocando de forma tão descontraída. Eu também me emocionei com o clipe de “Real Love” ao vê-los abraçados, felizes, e em uma cena que o Paul chega e cumprimenta o George com um beijo no rosto. Sem preço ver isso!
O George ficou cada vez mais recluso na década de 90, eu sempre tive muita esperança em assisti-lo ao vivo.
Fazia tempo que não tinha notícia dele (quase 1 ano, desde o Anthology), mas num belo dia, no meu aniversario de 16 anos, 31/10/96, que foi pra mim um dia relativamente triste pois caíra um avião da TAM em SP matando quase 100 pessoas, e as pessoas só falavam nisso o tempo todo. Grandes tragédias me abalam, eu fico muito sensibilizada sem clima pra comemoração, mas mesmo assim, muitas pessoas – basicamente amigos dos meus pais - foram em casa comemorar meu aniversário. A TV estava ligada no SBT que exibia ao vivo um especial com o Emerson Fittipaldi, e eu meio entediada com os amigos dos meus pais em casa, comecei a assistir quando do nada o apresentador fala, temos uma pessoa que la da Inglaterra mandou uma mensagem para você. Era o George!! Cantando ” Here comes the sun” adaptada para o Emerson. Comecei a chorar imediatamente, e pra mim aquilo foi um “presente divino” pra me fazer sorrir num aniversário até então tão sombrio. Só o George pra me iluminar cantando ” Here comes the sun”, mesmo sendo para o Emerson Fittipaldi, naquele dia eu senti como se fosse pra mim.
Em 97, anunciam que o George teve câncer na garganta e se curou! Só anunciaram depois da cura, então ao mesmo tempo em que tomei um susto, suspirei de alivio. Nesse ano, eu ja sabia que Linda McCartney estava desenganada, Paul tinha feito um disco inteiro “Flaming Pie” praticamente se despedindo dela, e eu já estava arrasada o bastante com essa situação, pois adorava a Linda. A idéia de George também estar doente era insuportável, mas me mantive otimista, assim como as noticias foram.
Em 98, Linda nos deixou, foi muito duro, muito triste e nunca vou esquecer da carinha do George indo ao seu “memorial service” todo vestido com uma blusa de capuz, quando vi isso, nem passou pela minha cabeça que ele poderia ser o próximo em tão pouco tempo.
Em 99, no fim do ano, a casa do George é invadida e ele foi esfaqueado. Eu, então grávida de 6 meses, passei literalmente mal. Não lembrava da morte do John, mas isso mesmo assim, sempre me assombrou. Ter que passar isso com o George seria literalmente o fim do mundo. As noticias foram que ele não corria risco e passava bem, novamente, suspirei aliviada.
Em 2000 não tive tantas noticias do George, apenas especulações que a doença havia voltado, mas nunca nenhuma confirmação oficial. Eu, sempre me mantive otimista. Nesse mesmo ano, eu com filho recém nascido, me ausentei de internet, listas, eventos Beatles e afins, e toda informação que recebia era via mídia escrita (revistas) que eu lia nas minhas folgas.
Em 2001 começou meu “calvário”, por diversos motivos pessoais, o ano ja começou tenso e pesado pra mim. Aí, começaram os boatos de que ele, George estava mal, na pior que o câncer havia se espalhado. Essas coisas me tiravam a energia de uma forma que honestamente, eu não sei como eu sobrevivi a tudo isso. Eu me lembro de uma vez de ler uma noticia onde George Martin declarava que ” George Harrison sabe que vai morrer em breve e estar em paz” e ter literalmente passado mal, vomitado, eu não tinha estômago pra lidar com aquilo. Pra piorar, as fotos mostravam o George magrinho, abatido…
O tempo ia passando e os boatos aumentando, até que em Novembro 1 semana antes de ele morrer a TV noticiou, que George Harrison, desenganado tinha ido para os EUA com familiares . Eu desabei a chorar como uma criança, nessa hora meu marido na época ligou e contou pro meu pai, que me ligou pra consolar dizendo tudo que eu nao precisava ouvir ” minha filha, aceita, o George já era, infelizmente” só me lembro de ter berrado um sonoro ” não” e ter praticamente desligado na cara dele!
Eu tinha esperança, eu não sei explicar como, mas eu tinha muitas esperanças, quase uma certeza de que o George sobreviveria, eu tive até o fim, até o último dia. Eu conversava com ele como se ele pudesse ouvir ” Eu sei que você vai sair dessa, Georginho”.
Dia 29/11 foi mais um dia que eu vivi tensa, amargurada com muito medo, mas ao mesmo tempo otimista, não tinha a menor idéia de que o George já tinha partido.
No dia 30, uma sexta feira, cheguei às 6:30 no trabalho, nessa época , eu entrava às 7h, e me lembro que exatamente às 7, meu ramal tocou: era uma colega que trabalhava na recepção de eventos da empresa onde eu trabalhava, onde havia um TV, ela era nova, me conhecia há poucos meses, sabia do meu interesse pelos Beatles, mas não do meu fanatismo, e por isso nem teve muito cuidado ao me dar a notícia. E,foi assim que recebi a pior noticia da minha vida :
Recepcionista: Aline?
Eu: Oi, pois não?
Recep: É vc que gosta de Beatles né?
Eu: Sim, pq?
Recep: Nossa, tem uma muvuca aqui na recepção assistindo ao jornal, parece que morreu um tal, - deixa eu ver o nome, (pausa no telefone)…George Harrison, vc conhece?
EU: muda atônita, deixei o telefone cair….
Tudo que eu escrever aqui , tudo que se passou nas horas que seguiram após ouvir essa notícia, vai soar como exagero, fanatismo da minha parte, ou sempre tem aqueles que falam ” George nem sabia que vc existia, bla, bla, bla “. Eu não ligo, tampouco tento esconder meus sentimentos, sou assim, e o amor que tenho pelo George, faz parte de mim.
Obviamente nesse dia, as lágrimas não cessavam. Pedi pra ser dispensada mais cedo, fui pra casa olhando as pessoas na rua felizes num dia bonito e ensolarado e pensava ” Como as pessoas podem estar felizes hoje? O George morreu!!!” Minha mãe foi me buscar para passar o fim de semana na casa dos meus pais que fica fora de SP, e eu ainda com a cara inchada de tanto chorar , estava muda, quieta, fora de si não falava nada com nada. Até que minha mãe sintoniza numa rádio que fala ” O mundo perdeu hoje, George Harrison” e começa tocar ” here comes the sun” Novamente, muuuitas lágrimas, o meu filho, então com 1 ano e 6 meses de idade, me olhava assustado e chorava por me ver chorando sem ter a menor noção do que se passava, coitadinho , nessa hora, precisei me conter.
O Jornal Nacional do dia 30/11 foi a coisa mais linda do mundo, praticamente 99% dedicado ao George, e encerrado com o solo de “Something”. Sou implicada com a Rede Globo, mas nesse dia, tirei o chapéu, fizeram uma reportagem à altura e digna de um Beatle.
O tempo foi passando e a dor nunca sumiu, meu filho se tornou tão fã do George – junto com Ringo, seu beatle favorito - ao ponto de aniversario de 5 anos(!!!) ter pedido o box “Black Horse” e de aniversário de 7 anos, o DVD do Bangladesh, que eu só tinha em fita. A minha surpresa maior foi quando meu filho ganhou uma Fender e pediu para que eu mandasse pintar igual à guitarra do George no “Magical Mistery tour”, o que prontamente foi feito pelo meu cunhado Ricardo Junior, da Beatles 4 ever.
Meu filho, então com 7 anos e meio, aprendia a tocar guitarra sozinho. “Um dia, ele mesmo se filmou com uma barba postiça “estilo George no concert for Bangladesh” e aprendendo os acordes de “ while my guitar gently weeps”. Quando encontrei isso no computador, quase morri de orgulho, embora ele tenha morrido de vergonha e até hoje, aos 11 anos, tenha vergonha , eu adoro ver que um pedacinho de George Harrison vive dentro de cada fã, e eu e meu filho, somos uns deles:
Link para o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=_uTuL9Nn700
Não tem um dia que eu não pense no George, ou que não lamente sua perda. O pior é que no fundo sei que se o George estivesse vivo, as chances de conhecê-lo seriam mínimas: ele quase não fazia show, vivia recluso em “Friar Park”, nunca foi lá muito acessível. Mas , mesmo assim, dói a ausência dele, porque eu sentia um bem enorme só de saber que ele respirava, que ele estava vivo fazendo as coisas que gostava, passando as mensagens de paz, amor e coisas positivas, ou simplesmente tocando sua música, assistindo às corridas de F1 e recebendo e tocando com os amigos! Mesmo sem a menor chance de conhecê-lo, eu seria feliz pra sempre, sabendo que eu vivia num mundo com o George.Um mundo com certeza mais leve, mais colorido, um mundo melhor.
As pessoas sempre fazem perguntas hipotéticas:
O que você faria se encontrasse o Paul na rua?
Respondo “Ah, o cumprimentaria e abordaria gentilmente pedindo uma foto e/ou um autógrafo”
“E se você tivesse encontrado o George?”
Respondo: “Ah, isso é fácil, eu pediria um abraço, somente isso, só pra sentir um pouco de toda aquela energia boa, daquela luz que ele emanava, eu morreria por um abraço”
Eu termino aqui meu longo relato(acreditem, tive que resumir, rs) com muitas lágrimas, mas com uma única certeza, certeza que me dá uma licença poética e me faz unir 2 músicas do George em uma única sentença:
“George, all things must pass, but your love is forever”.
Enquanto eu viver, eu carregarei esse amor dentro de mim, e sempre terei orgulho de ter a minha vida inteira amado tanto George Harrison, muito mais que um ídolo, ou um grande músico, mas um exemplo de vida, de paz, de ser humano, um exemplo de amor. George Harrison é vida!
Thank you, George! Thank you, indeed!
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