George Harrison

Peculiaridades de George Harrison nas Get Back Sessions

por Carlos E. Werlang
Plastic Ono Blog (
http://plasticonoblog.blogspot.com/)
 
Gostaria de fazer algumas considerações antes de começar. Muitas vezes me senti receoso e até envergonhado em escrever alguma informação incorreta ou algum insight furado. Às vezes pensava no que a ‘velha guarda’ dos beatlemaníacos que conheço ia dizer caso escrevesse alguma besteira. Eis que depois de muito pensar, cheguei, dias atrás, a uma conclusão. Na verdade são três fatos que me diferem dos velhos beatlemaníacos – embora já algum tempo não me considere mais um beatlemaníaco, mas sim um “beatle-estudioso”.
 
1. Quando eu nasci, em agosto de 81, John Lennon já havia sido assassinado oito meses antes. Isso quer dizer que eu não tenho o trauma de ter visto John morrer, e isso me faz ser da primeira leva pós-assassinato. De alguma forma é uma vantagem, pois não sou nenhuma viúva como a maioria é.
 
2. Eu não odeio a Yoko Ono, muito pelo contrário. A maioria dos beatlemaníacos brasileiros a odeia, e vivem na ilusão de que ela separou os Beatles. Podem argumentar que eu não estava lá para dizer, mas qualquer um que leu, viu e escutou entrevistas de qualquer um da banda, sabe que eles tinham muitos problemas, e que a Yoko era só um deles. Além do mais, na pirataria do Get Back Sessions quando George deixa a banda no dia 10 de janeiro, John e Yoko, Paul e Ringo tocam de maneira jamais vista e ouvida, prova de que ela tinha sim uma influência artística na banda.
 
3. Desde que eu me lembro, eu nunca imaginei os Beatles como sendo John e Paul mais George e Ringo. Desde o começo, George sempre foi tão importante e igual quanto os outros dois. Essa é mais uma ilusão que a velha guarda tem por ter vivido a época. Assistir o filme do Scorsese só comprova a importância do Beatle mais novo. Como ele disse no filme “Se John e Paul conseguem escrever, qualquer um deve conseguir.” E não só isso, George tem mais culpa que a Yoko pela separação, já que ele mesmo ficou maior que a banda.
 
Os vídeos abaixo são de músicas gravadas em janeiro de 69, no Twickenham Film Studios, durante as sessões que ficaram conhecidas como as Get Back Sessions ou Let It Be Sessions. Eles são uma prova de que George era mesmo um cara peculiar, e só ele conseguiria fazer o que foi feito nessas gravações:
‘I Shall Be Released’ – nesse cover de um velho conhecido, George e John tocam e cantam juntos nessa que seria somente uma das várias canções de Bob Dylan tocadas durante as sessões. Sendo Paul egomaníaco e John uptight demais, eles nunca tocariam Dylan numa sessão dos Beatles por conta própria. Mas George, que havia acabado de passar o ano novo em Woodstock, trouxe na mala a influência do artista americano.
‘I Me Mine’ – original de George que acabou por irritar John Lennon devido a sua batida de valsa. John avacalha George, a música, as letras, e ainda diz “Run along son. We’re a rock’n’roll band”. É por isso que no filme Let It Be ele e Yoko dançam durante a performance dos outros três Beatles. John nem participou da versão final do álbum. 
 
‘Hear Me Lord’ – os Beatles tocando música devocional? Claro que a canção não sairia nunca num disco dos Beatles, pois tocar uma música dessas, com uma letra tão cheia de peso filosófico seria demais para Paul e John. Ainda assim, George consegue fazer com que a banda toque a sua canção. A espiritualidade de George só pode ser entendida por quem leu a respeito de hinduísmo, Krishna, Swami Prabhupada, karma, reencarnação, maya, mundo material. Para quem não sabe nada sobre isso, nem todos os discos de coleção serão o bastante para entender as sutilezas da natureza das coisas em que George acreditava. Assim como o filme do Scorsese.
 

‘All Things Must Pass’ – a música título do álbum triplo de George, seu álbum de estréia que colocou no bolso os primeiros álbuns de John e Paul. Outra música considerada chata por John, é interessante e irônico ver ele e Paul cantando all things must pass, o refrão da canção do álbum que seria número 1 das paradas. A curiosidade é John tocando órgão. A canção foi tentada várias vezes durante janeiro, mas nunca teve uma conclusão adequada, já que John, e agora Paul, faziam os backing vocals de maneira exagerada demais, só para irritar George.

Finalmente, gostaria de agradecer alguns amigos que sempre me incentivam a continuar a escrever e contar essas estórias subterrâneas que ninguém mais acha necessário contar. Thanks to “the celebrated mr. K”, Andre L., Lucas M. e Andressa D.

Comentário

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  • Nada haver meu amigo, os backing vocals de Paul e John são perfeitos em All Things Must Pass e eles combinam a harmonização das vozes, se você for ouvindo as tentativas de ensaiar a música ao longo dos dias perceberá que primeiro George cantava sozinho, depois eles combinam essa harmonização vocal, eles até conversam sobre mantê-la elétrica ou deixar apenas George no violão (com os backing vocals obviamente). A harmonização das três vozes sempre foi um dos pontos mais fortes dos Beatles, e é uma marca em toda a obra da banda. Você tem que levar em conta ainda mais duas coisas: All Things Must Pass é uma música Folk, e é inspirada na experiência do George tocando com o Dylan e com a The Band, então na verdade os backing vocals procuram dar um clima meio country, do campo a faixa, e conseguem perfeitamente. Recomendo assistir o vídeo do canal gringo Pop Goes to 60′ sobre a faixa, lá ele desmistifica essa história de que os Beatles teriam rejeitado All Things Must Pass.

    Quanto a Yoko ter uma influência artística na banda, eu diria bem pouco. Os Beatles tocaram mais pesado nessa Jam que a Yoko fica gritando e atrapalhando a audição do instrumental, mas não é como se os rapazes não já tivessem tocado mais pesado antes, Helter Skelter tem versões gigantescas e a intenção é a mesma que a dessa Jam, então não é como se eles tivessem tocado de maneira jamais vista e ouvida. Sem contar que a expressão usada claramente procura enaltecer a perfomance do grupo nessa jam, mas, nas sessões do Abbey Road eles estão tocando muito mais por exemplo, e até mesmo antes, nas Get Back sessions houve uma certa dificuldade em voltar a tocar como uma banda e eles foram conseguir se entrosar de novo mesmo lá em Abbey Road.

    A Yoko tinha uma influência no John, isso sem dúvidas. Uma coisa que podemos notar, por exemplo, são os gritos, que o John incorporou pra si, tentando se aproximar da música “avant guard” da Yoko, vimos ecos disso em I Want You (She’s So Heavy), em Cold Turkey que infelizmente, aparentemente, foi rejeitada pela banda. Ela era uma artista, então ela conversava com o John sobre ideias e conceitos e isso o influenciou, chegou a respingar na banda, mas é algo bem pouco, se a banda não tivesse acabado e por exemplo, em 1970, ao invés de John sozinho ele chamasse a banda pra fazer a terapia do grito primal (algo semelhante ao George chamando todos para o retiro espiritual na índia em 68), isso poderia ter influenciado o nascimento de um álbum único, e isso sem dúvidas teria se originado da Yoko.

    Achei seus comentários muito arrogantes, cada geração de beatlemaníacos, ou até mesmo cada pessoa que ama essa banda pode ter suas próprias visões e opiniões, e como vemos aqui mesmo algumas que se vendem como fatos, nem fatos são! A verdade é que ainda há muitas histórias sobre a banda a serem desmistificadas, e ao longo das décadas, olhando para trás as fontes de informações eram bastante escassas e não se questionava o que se punha em biografias etc… Você fala como se fosse um privilegiado por ter nascido na geração tal, e por isso você tem a visão correta e superior as demais que estão todas erradas e cegas pelo romantismo, tenha dó amigo…

Editor

José Carlos Almeida

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