George Harrison

Por Dentro dos Beatles: George Harrison

GEORGE HARRISON, desde pequeno, fugia dos padrões. Lá no meio dos anos 50, com 12, 13 anos, usava roupas coloridas berrantes, calças muito justas (as drain pipes) e era dono de uma vasta cabeleira que mantinha esculpida com água e açúcar. Dizem as boas línguas, que distribuía cabeçadas nos desafetos sem desmanchar o penteado. Foi infectado pelo rock, que nascia naquela época, e se apaixonou por guitarras, que desenhava obssessivamente nos cadernos da escola. Aprendeu a tocar o instrumento tão bem que foi convidado por seu amigo Paul McCartney a se juntar aos Quarrymen, grupo de skiffle/blues/rock fundado por um jovem John Lennon e que era formado por estudantes da escola Quarry Bank.

george-harrison2A partir daqui aperto minha tecla FF, passo pelo nascimento dos Beatles, Hamburgo, Cavern, a entrada do Ringo e chego ao motivo deste texto que é falar do George compositor. Na discografia oficial dos Beatles, sua primeira música aparece no segundo album da banda, With the Beatles. Don’t bother me não era grande coisa, mas serviu pra completar o disco. Também foi uma maneira de Lennon&McCartney e o produtor George Martin dizerem ao garoto de 20 anos: “capricha que tem espaço pra você”. Porém, a bolacha preta era pequena para tanta fome (e genialidade) da dupla principal e não havia muito espaço pro Beatle caçula abocanhar muita coisa. Felizmente, apesar das dificuldades de compor sozinho, ele não desistiu.

E, à medida que os Beatles iam se transformando, George ia se transformando também num grande compositor. Os primeiros “êpa, aí tem” vieram com Think for yourself e If I needed someone, do disco Rubber Soul, de 65. George tinha 22 anos. Mas sua primeira composição clássica, um rock petardo, de letra bastante inteligente e irônica crítica social, foi Taxman, que ganhou selo de qualidade para abrir um disco dos Fab4 – e não era qualquer disco: era Revolver. George tinha 23. Depois vieram, só para citar algumas gemas, Within you, Without you, a música Indiana de Sgt. Pepper. While My guitar gently weeps e Savoy Truffle, do Álbum Branco. I, me, mine e For you blue, do Let it be. Something e Here comes the sun, do Abbey Road, último disco gravado pelos Beatles. George tinha 26.
Aqui viramos o disco. E focamos na carreira solo.

No final dos Beatles, George já era um compositor e tanto. Mas, como já disse, a tal bolacha era pequena pra tanta fome e gelialidade e a maioria das suas músicas iam pra gaveta. Quando a banda acabou e ele lançou o primeiro disco solo, a gaveta foi aberta. Caixa de Pandora às avessas, o que se viu ali foram músicas realmente excelentes e em número suficiente para fazer um álbum triplo. As 3 bolachas agora eram todas suas. E ele encheu a pança. De elogios e dinheiro. All things must pass vendeu milhões de cópias, rendeu discos de ouro, platina, Grammy de Álbum do ano. O álbum traçou tudo que tinha direito. Ganhou também nossos ouvidos, o prêmio mais cobiçado por qualquer músico de verdade.

A partir daqui, visto minhas luvas de boxe imaginárias e chamo meu amigo Zoca Moraes para o pau. Como sei que ele gosta de uma boa briga, já vou avisando que, pelo George Harrison, vale dedo no olho, rabo de arraia, cotovelaço e quetais. Meu amigo Zoca diz que Dark Horse é uma das poucas canções memoráveis de Harrison, pós Beatles. A única coisa que concordo com essa frase, é que a canção é memorável. Que é uma das poucas, discordo. E já discordo desferindo um rabo de arraia chamado Love comes to everyone. Prossigo o ataque com um joelhaço na terceira vertebra da coluna chamado Blow away. Dedo no olho com Miss O’Dell. Cotovelaço com This song. Direto no queixo com Living in the material world. Calcanhaço na orelha com Teardrops. E mata leão com Faster, When we was fab, Someplace else, Mystical one, You, Bangladesh. Não vou citar outras, nem falar do pouco conhecido, mas lindo trabalho, com Ravi Shankar porque o juíz da luta já tá me olhando com cara feia.

Concordando ou discordando, o melhor de tudo isso é que estamos falando de um gênio, que mudou minha vida e a vida de milhões de pessoas. E falar sobre ele sempre me dá um prazer danado. Love is all. And comes to everyone.

Por Ricardo Ribeiro

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