Beatlemania Nacional The Beatles

Raul Seixas e os Beatles: unidos pelo Rock’n’Roll

Por André Katz
Com José Carlos Almeida e Adailton Lacerda

Se tem alguém que é praticamente unanimidade entre os roqueiros brasileiros é o “grande pai de todos nós”, o baiano Raul Seixas. Admirado por brasileiros de todas as regiões e estilos de vida, não é diferente entre os fãs dos Beatles: ele também é idolatrado pela Beatlemania nacional. O mais interessante entre Raul e os Beatles é que ele TAMBÉM era fã… e dos Beatles.

Embora seus discos sejam dos mais ecléticos na discografia brasileira, Raul sempre reafirmou seu amor pelo Rock “das antiga”, com ênfase para Elvis, mas com referências a dezenas de bandas e ícones dos anos 60. Aqui vamos relacionar o que conseguimos apurar dentro das referências, homenagens e até pequenas chupações que Raul fez em relação a John, Paul, George e Ringo, juntos e separados. Chegaremos à conclusão de que, além de um grande gênio eterno da música, Raul também era um beatlemaníaco, como eu e você.

With The Beatles e assim por diante…
A capa do primeiro album do Raul (Raulzito e Seus Panteras) é até uma certa lembrança da capa do álbum With The Beatles. Até o modo em que o grupo é apresentado na capa traseira do Long Play é bem similiar ao segundo disco do Fab Four, explicando faixa-a-faixa da mesma maneira. A capa da frente combina pelas camisas de gola rolê escura e o corte “arthur“, mas a foto é colorida.  No conteúdo, ainda mais Beatlemania: a faixa “Você ainda pode Sonhar”, uma versão de “Lucy in the Sky with Diamonds”.

Nos três discos seguintes não houve mais referências à Beatlemania. Mas em 1974 há dois fatos (um meio forçado): no álbum Gita: no fim da música “Super Heróis”, durante o fade final, Raul começa a cantar “Kansas City”. Pros novos fãs, uma big referência aos Beatles – a original é de Little Richard (Richard Wayne Penniman), mas a maioria conheceu a versão do Fab Four.

Versão da “Rainha do Rock” (ele mesmo fala assim!)


Com o Raul ficou assim.

Conta-se que durante o exílio de Raul nos Estados Unidos, ele encontrou-se com ninguém menos que John Winston Lennon. Sobre o que conversaram? Provavelmente sobre uma possivel únião da “Nutopia” de John com a Sociedade Alternativa do Maluco Beleza. Resultado? Ninguém sabe nem se os caras se encontraram de fato, mas o Paulo Coelho desmentiu, falando que apenas esbarraram com ele na frente do Dakota, mas não trocaram nem uma palavra entre si. Entra como um Beatle-fact, Claro!

Álbum Novo Aeon, de 1975: um disco recheado de clássicos e de referências. Na música “Rock do Diabo”, o “One two three four” sem dúvida lembra “I Saw Her Standing There” (e mais meio milhão de rocks), mas o riff de guitarra a seguir não de fica nem na dúvida de que é uma bela referencia a “Honey Don’t”, um cover dos Beatles para a música de Carl Perkins.

E pra quem acha que acabou, após a última vez em que o refrão é falado, a referência acontece de novo! Os arcordes que vem a seguir, sozinhos feitos pela orquestra de metais e a guitarra (A-A#-B) poderia ser uma referência às músicas Kansas City nas sequencias músicais C-C#-D tocadas no fim das primeiras estrofes, antes de começar o solo (o que tornaria, talvez, a fonte de inspiração de Raul poderia ter sido o album Beatles’65 ou o Beatles for sale, por causa do uso de “Honey Don’t”, citado um pouco mais acima) e “Back in the U.S.S.R”, com os arcordes D-D#-E, que vem logo após a primeira e a última vez que o refrão é cantado. O que acaba então dando a  “Super Heróis”, de 1974 mais uma citação!

A partir dos anos 80, Raul começou a abrir os shows com Rock do Diabo, sem as referencias as duas primeiras músicas. A versão a seguir é do show na praia do gonzaga, presente no LP “Eu, Raul Seixas”:

No disco Novo Aeon, 1975, ainda temos mais citações: ainda do mesmo lado chegamos a “Tú és o MDC da minha vida”, o primeiro riff da guitarra lembra muito “Things we said today”.

Quando se vira o lado do vinil, começa a música “A verdade Sobre a Nostalgia”, com uma homenagem ao ídolo-mor de Raul, Elvis Presley. A introdução é toda da música “My Baby Left Me”, gravada pelo Rei do Rock em 1956. E os Beatles estão lá presentes também nessa música, e dessa vez não musicalmente, mas na letra: “é mãe com Beatles, papai falou….” mas essa é a única citação dessa canção.

A última referêcia aos Beatles no album é a música “Peixuxa (o amigo dos peixes)”, praticamente uma irmã-gêmea de “Ob la di Ob la da”. Mais uma bela sacada de Raul Seixas em referência a músicas que podem ter mexido com ele. No caso dessa…TODA a entrada da música até o início da primeira estrofe. Até a risadinha!

Pode-se chegar à conclusão que nesse disco Raul se inspirou muito nas coisas de 1964 e 1968. Será que tem mais daí pra frente? TEM! O álbum Há 10 mil anos atrás, 1976, também figura nesse tópico! Na Música “Dia da Saudade” temos a presença logo de cara de “Get Back” nos backing vocals ao se ouvir “Hoje é Feriado, é dia da saudade”. É o mesmo que ouvir os mesmos versos de Paul: “Jojo was a man, who thought he was a loner”. E se você viajar um pouco, tem uma levissima referência da melodia vocal de “Twist and Shout” no inicio de todas as estrofes da música quando Raul canta. Quando parte para a terceira parte da música (“para o campeão do melhor glutão…”), parte-se também para uma referência à segunda parte de “Back in the USSR”! Mas tá tudo bem, porque Paul nela fez uma leve citação a Beach Boys (California Girls= Ukraine Gilrs, Idéia de Mike Love, do Beach boys) e Chuck Berry (Back in the USA=Back in the U.S.S.R, mais uma sugestão do Beach Boy pro Beatle canhoto). Ou seja, todo mundo citou o outro. Tudo na base da amizade mesmo.

O álbum O Baú do Raul saiu em 1992, com gravações raras do Maluco Beleza. Dentre elas, duas gravações caseiras feitas entre 1976 e 1979, de Raul e sua esposa na época, Glória Vaquer: “Honey Don’t”, “Kansas City” e “I’ll cry instead”! Boas Versões! A Segunda tem a voz principal de Glória e chegou a tocar na rádio em Belo Horizonte!

“Segredo do Universo”, do álbum Por quem os Sinos Dobram, em sua abertura é uma bela tocada de “Get back”, mas é só isso nessa música. Mas confira aí:

Em 1982, Raul Seixas se apresentou em um show na Praia do Gonzaga, em São Paulo. Um show histórico, que tem registro em disco, em uma edição super limitada. Mas esse disco não contém a primeira versão de uma música que se tornou clássica em seus shows dos anos 80 e até rendeu mais uma citação de Beatles, no álbum A Panela do Diabo: “Roll Over Beethoven”. Pode-se dizer até que é versão de Chuck Berry, mas na versão do “papai do rock” não existe backing vocal, que é feito nas versões ao vivo do Raul, pelo guitarrista solo da banda, e no “Panela” por Marcelo Nova! Confira, é boa pacas!

“O Segredo da Luz”, do LP de 1983 (conhecido pela música “O Carimbador Maluco”), é muito igual ao solo de “Here Comes The Moon”, de George Harrison em 1979.

Apesar de Raul não fazer mais parte do cast da gravadora Eldorado, a mesma, em 1984, lançou o álbum Ao vivo, Único e Exclusivo, com o melhor registro do Maluco Beleza ao vivo (sem sombra de dúvidas, recomendo demais). Um álbum que começa cheio de covers, e na verdade na sua primeira versão é só de covers, mas a segunda, intitulada “Raul Vivo“, tem músicas de Raul também! Mas o interessante aqui para a matéria é citar que na edição do disco (e do CD) saiu uma versão de “Ain’t She Sweet“, gravada no meio das sessões dos Beatles como banda de apoio de Tony Sheridan para My Bonnie (a música é tão antiga que tem versões até em 1927!
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No disco “Metrô Linha 743” no remake da faixa “eu sou egoísta“, lá está Raul cantando trecho de Imagine no fim da música!

Últimas Observações

Cambalache (disco: Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum)
http://www.youtube.com/watch?v=yBgGvba3N3w
A letra diz: “Misturam-se Beethoven, Ringo Starr e Napoleão/Pio IX e D. João, John Lennon e San Martin”. É uma versão de Raul para “Cambalache”, do argentino Enrique Santos Discépolo, composta em 1934. Raul adaptou os personagens.

Não Quero Mais Andar Na Contramão (disco: A Pedra do Gênesis)
Versão de Raul para “No No Song”, hit numa gravação de Ringo Starr. Arranjo e letra são fiéis à original.
Raul: http://www.youtube.com/watch?v=MPm57RSO8mw
Ringo: http://www.youtube.com/watch?v=iVGerWFYotQ

Não Fosse O Cabral (disco: Raul Seixas, 1983)
Versão de Raul para “Slippin’ and Slidin'” de Little Richard e regravada por Lennon.
John: http://www.youtube.com/watch?v=Bwy5DhjGEf8

Vocês deviam ter estado Lá (disco: Raul Vivo)
No “Raul Vivo”, bem lembrado com Ain’t She Sweet, durante o show, Raul se empolga falando dos anos 50 e diz: “Como John Lennon dizia: ‘Vocês deviam ter estado lá'”. Essa frase, ‘You Shoulda Been There’, John usou no encarte do álbum Rock N Roll e disse no comercial de rádio divulgando esse disco.

Considerações finais
Afinal, todo mundo sabe que muitos artistas, inclusive famosos, adoram fazer citações às músicas dos seus ídolos. Se sentem, enfim, até criando junto com eles, ou simplesmente dizendo um “Parabéns cara, gosto demais da tua música, olha só”. Existe uma grande diferença entre uma citação e um plágio. Raul sempre fez suas referências dentro dos limites e não pode nunca ser considerado um plagiador – e sim um gênio, que gostava demais de homenagear outros gênios. Não tenho nenhuma dúvida.

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