George Harrison

Há 11 anos: Tudo deve passar…

Por Cristine Afonso

Passei o dia inteiro de ontem sem saber da morte do George. Não tinha ligado a tv, a internet ou o rádio antes de sair…e nada na rua, na cara das pessoas, me fez pensar que o inevitável tinha acontecido mais cedo do que pensávamos, que George não estava mais entre nós.

Quando cheguei em casa, à noite, liguei a tv displicentemente…bem no momento em que o Jornal Nacional anunciava a morte do “Beatle Quieto”. Senti uma tristeza enorme, mas não cheguei a me debulhar em lágrimas…acho que meu coração estava, aos poucos, se preparando para a notícia.

O resto da noite, fiquei navegando, lendo os tributos, as opiniões dos fãs, dos amigos. Não sentia vontade de escrever nada, nem fazer nenhum comentário sobre George ou sobre minha tristeza. Apenas li o que os outros diziam e fazia minhas reflexões…talvez tentando eu mesma entender o que eu estava sentindo em relação ao Beatle que sempre foi, para mim ao menos, um grande mistério.

Lembro-me que, quando assisti ao Anthology, muitas vezes ficava meio irritada c/ os comentários do George. Ele parecia tão amargo, cínico e desiludido em relação aos Beatles…eu pensava que George, Ringo e Paul eram privilegiados em relação ao John por poderem dar uma opinião sobre o grupo mais maduros e serenos, chance esta que John não teve. E o que me incomodava é que, para o George, os Beatles ainda pareciam algo complicado de se lidar, uma bagagem muito difícil de carregar. Lembro que meu irmão assistiu os episódios comigo e comentou “Nossa, mas o George só reclama!”

Mas felizmente, tivemos a chance de rever (ou reler) as opiniões dos Beatles c/ o lançamento do livro Anthology. Foi minha vez de ficar impressionada em como as palavras de George, impressas, ganharam sabedoria, amor, serenidade. Ele e John sempre foram muito críticos em relação aos Beatles, sim, mas na verdade nunca foram cínicos em relação ao que o grupo representou na vida das pessoas, e na deles próprios. E George deixa bem claro no livro seu amor pela música dos Beatles e por seus “três irmãos”. Suas opiniões e análises ali foram um belo testamento que ele nos deixou.

Como eu disse, George sempre foi um mistério pra mim. Mas uma coisa sempre admirei nele enormemente, além de seu óbvio talento como músico: sua serenidade, quase displicência, em relação à fama e à seu enorme status como ícone de nosso tempo. Posso imaginar George calmamente regando as plantas de seu jardim, certo de que os Beatles foram sim, maravilhosos, mas “all things must pass”…ele sabia que nunca haveria uma volta, e esta é uma crença que eu sempre partilhei c/ ele.

Pra terminar, sei que é óbvio dizer o quanto espero que ele e John tenham se reencontrado em algum lugar melhor, como George sempre desejou. Como ele mesmo disse “Se você não consegue sentir o espírito de um amigo de quem foi íntimo, então qual a chance de você sentir o espírito de Cristo, ou de Buda, ou de seja lá quem for que você esteja interessado? Se nossas memórias nos servirem bem, nós vamos nos encontrar de novo. Eu acredito nisto.” É o que eu espero também…John e George sempre tiveram uma ligação especial, e tenho certeza que precisam colocar muitos assuntos em dia.

“Depois de tomarmos ácido juntos, eu e John desenvolvemos um relacionamento muito interessante. O fato de eu ser mais novo ou menor já não significava nenhum tipo de embaraço para John. Paul ainda diz “Acho que negligenciamos George por ele ser o mais novo”. As pessoas estão sob esta ilusão. Não tem nada a ver com sua idade, ou com quão grande é seu corpo. Tem a ver com a sua conscência do Todo, e se você pode viver em harmonia com o que acontece na Criação. John e eu passamos muito tempo juntos dali em diante, e eu sempre me senti mais próximo dele do que de todos os outros, até sua morte. Quando Yoko entrou em cena, eu perdi muito de meu contato pessoal c/ John, mas nas ocasiões em que eu o encontrava, só pelo seu olhar, eu sabia que estávamos conectados”. – George, no Anthology.

Você estava certo, George…espero que o reencontro tenha sido maravilhoso.

Adeus, amigo. Dê um abraço carinhoso naquele maluquinho por mim…

“All things must pass… all things must pass away…”

Cristine

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